A crise econômica foi dura e forçou muitos empresários a passarem por uma completa readaptação de seus negócios. Ainda assim, sinais mais tranquilos podem ser vistos no horizonte próximo. Uma sondagem realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as capitais do País revela que o percentual de comerciantes e empresários de serviços, que notaram piora na situação financeira de seus negócios, diminuiu de 48% em 2016 para 30% em 2017, o que configura uma queda expressiva de 18 pontos percentuais em 12 meses.
No mesmo sentido, aumentou de 15% para 21% o volume de empresários que observaram um desempenho melhor no último ano na comparação com 2016. A situação permaneceu estável para 40% dos entrevistados. Entre aqueles que melhoraram a performance de suas empresas ao longo do ano passado, 51% presenciaram resultados mais expressivos nas vendas e 27% conseguiram ampliar a carteira de clientes. Há ainda 9% de varejistas que diversificaram os produtos ofertados.
Considerando aqueles que amargaram um ano pior para as finanças da empresa em 2017, mais da metade (51%) argumentam que não tiveram um bom resultado nas vendas, alternativa que, em 2016, era ainda maior: 63% da amostra. Também são citados a diminuição da margem de lucro (34%) e aumento a concorrência (24%). Quando a análise se detém ao quadro macroeconômico do País como um todo, quatro em cada dez (42%) empresários consultados acreditam que as condições gerais da economia pioraram em 2017, embora tenha havido uma queda de 20 pontos percentuais na comparação com a sondagem feita para 2016.
Outros 35% não notaram mudança, ao passo que 14% acreditam em melhora, percentual que apresentou alta de cinco pontos percentuais. “Foram quatro anos turbulentos, marcados por retração no investimento e no consumo, além de desemprego em disparada, queda nas vendas e um cenário político instável, contaminando todo o ambiente de negócios no país. Agora, ao que parece, o empresário brasileiro começa a vislumbrar a possibilidade de uma retomada lenta e gradual dos negócios”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Empresários pretendem ampliar negócios
Embora parte expressiva dos comerciantes e empresários de serviços ainda note uma estagnação ou piora na economia em 2017, a percepção é de que a pior fase da crise ficou para trás e a perspectiva de crescimento do PIB já contagia o empresariado para 2018.
De acordo com a pesquisa, 56% dos empresários estão animados com a possibilidade de melhorar o desempenho de suas empresas nesse ano que se inicia, contra apenas 8% que se dizem desanimados e 27% que estão sem expectativa positiva ou negativa. Pensando no quadro de funcionários, somente 6% acreditam na necessidade de realizar novas demissões. Segundo com o estudo, 28% dos empresários pretendem ampliar seus negócios este ano e 16% desejam lançar novos produtos ou serviços no mercado.
No que diz respeito a tomada de crédito e realização de investimentos, contudo, o cenário é de cautela: somente 16% manifestam a intenção de adquirir equipamentos e só 8% pensam em pegar empréstimos. Para driblar os efeitos da crise que ainda persistem, 22% dos empresários vão priorizar pagamentos à vista em 2018 e 20% reforçar propaganda.
A pesquisa mostra que pouco mais de um terço (34%) dos empresários conseguiram realizar ao menos parte daquilo que se propuseram no ano passado. Outros 25% não cumpriram seus objetivos. As principais conquistas foram aumentar as vendas (28%), comprar equipamentos (27%), reformar a empresa (26%) e investir em propaganda (22%).
Em sentido contrário, os planos mais frustrados foram, principalmente, fazer uma grande reforma (28%), aumentar vendas (24%) e comprar equipamentos (20%). E o principal motivo para aqueles que tiveram de desistir de seus projetos foi a falta de recursos financeiros, mencionada por 26% desses entrevistados.
Ajuste no orçamento e eleições 2018
Sinal de que o otimismo ainda exige cuidados, é que 28% dos empresários tem como principal temor a possibilidade de o País não sair da crise, seguido do resultado das eleições presidenciais (20%) e do risco de fechar a própria empresa (14%).
De modo geral, 40% dos empresários brasileiros tiveram de fazer ajustes no orçamento ao longo de 2017, mas esse percentual também diminuiu frente a 2016, quando 48% tiveram de adaptar a empresa para tempos mais sombrios. Dentre essa parcela de empresários impactados pela crise, 52% reduziram funcionários, 28% diminuíram o consumo de água e luz e 25% economizaram na conta telefone.
Entre os que demitiram ano passado, a média é de dois a três funcionários dispensados por empresa. No caso desses entrevistados, as alternativas encontradas pelos donos das empresas para seguir com a gestão do dia a dia foi redistribuir as atividades entre os demais membros da equipe (37%) ou até mesmo assumir pessoalmente as atividades que ficaram sem trabalhador (24%).
Para o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, a capacidade da adaptação do empresário brasileiro tem sido fundamental para o país. “O empresário brasileiro tem uma capacidade de resiliência muito forte. Em tempos difíceis o empreendedor se vê obrigado a fazer sacrifícios, como baixar preços para lidar com a queda no consumo ou até mesmo promovendo cortes de funcionários. No entanto, são medidas paliativas e que não se sustentam no longo prazo. É precioso proporcionar um ambiente mais propício para os negócios, em que seja possível baixar custos e investir em inovação, aumentando a competitividade”, argumenta Pellizzaro Junior.
Contas no vermelho
A sondagem ainda revela que 15% dos empresários ouvidos admitem que ficaram vários meses ao longo de 2017 com as contas da empresa no vermelho. Em 2016, esse percentual era maior, alcançando 22% dos empresários. Além disso, 14% tiveram de reduzir o mix de produtos e serviços que oferecem aos clientes.
“O endividamento é um grande obstáculo para qualquer empreendedor porque diminui a capacidade de contratar crédito e expandir as atividades. Em alguns segmentos, o acesso ao crédito é fundamental para a sobrevivência da empresa. Para quem está nessa situação, é preciso traçar o quanto antes um plano de pagamento da dívida, buscando taxas de juros menores e prazos adequados, pois isso coloca em risco a continuidade dos negócios”, alerta a economista Marcela Kawauti.
Metodologia
Foram ouvidos 822 empresários de todos os portes, dos ramos de comércio e serviços, de todas as capitais brasileiras. A margem de erro é de no máximo 3,4 pontos percentuais para um intervalo de confiança a 95%.
Com informações SPC Brasil