“No Centro elas me davam confiança, me fizeram ver que eu podia largar o uso de substâncias. Lá eu me senti acolhida, e ainda me sinto”, conta Eliane (nome fictício), 50 anos, uma das mais de 32 mil pessoas atendidas pelo Centro de Referência Sobre Drogas (CRD) do Ceará.
Eliane conheceu o equipamento após um processo de internação médica, por indicação de uma agente de saúde. “Assim que eu cheguei, fui logo conversar com a psicóloga. Ela me explicou o que era o Centro, perguntou sobre a minha história, e disse que aqui eu só ficaria se eu quisesse, que nada era obrigatório, mas se eu tivesse mesmo interesse em deixar as drogas, eles estariam ali para me apoiar. Hoje fazem mais de três anos que eu não uso nada e todo dia é uma luta contra mim mesma”, enfatiza.
Atualmente, Eliane afirma que reconquistou não só a força em si mesma, mas o amor próprio e a confiança e convívio familiar. Hoje ela chega no CRD do Mucuripe e se sente em casa, entre abraços, memórias e palavras de gratidão. “Muitas vezes, quando eu pensava em voltar atrás, eu pensava logo no trabalho delas. Porque elas foram muito importantes pra mim no momento que eu mais precisava, que eu estava frágil mesmo. Hoje eu quero ser um exemplo para pessoas que tenham familiares assim. De ter força, de ajudar. Não criticar, dar apoio, carinho. Muitas vezes a gente precisa de uma voz amiga, de um abraço. Eu chegava aqui, me sentia acolhida, abraçada”, completa.
Gerido pela Secretaria da Proteção Social (SPS), o CRD atua na prevenção ao uso e abuso de álcool e outras drogas, além de atender pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social. Os serviços acontecem de segunda a sexta-feira, nas unidades do Mucuripe e do Centro de Fortaleza. As ações são realizadas, ainda, por meio das Unidades Móveis de Políticas Sobre Drogas, que levam serviços para locais estratégicos de Fortaleza e do interior. Os atendimentos iniciaram em 2021 e, juntas, as unidades contabilizam 32.393 atendimentos.
Secretária-executiva de Políticas Sobre Drogas, Lidiane Rebouças explica que a abordagem é realizada de acordo com a voluntariedade e decisão do usuário do serviço. “Às vezes a pessoa até faz uso de substâncias, tem problemas com esse uso, mas não quer ir para um leito de desintoxicação, nem para uma unidade de acolhimento. Ela quer só ficar fazendo acompanhamento dele no próprio Centro de Referência Sobre Drogas. Então, tentamos acolher essa demanda da melhor forma”, explicita.
Principais atendimentos
Através do CRD, a população em situação de extrema vulnerabilidade tem acesso a atendimento psicossocial com equipe multidisciplinar; insumos básicos para higiene; e encaminhamento para rede de atenção (Caps, Leito de Desintoxicação, emissão de documentos, Cras, Creas, Centro Pop, Cursos de qualificação Profissional, IDT e Comunidade Terapêutica).
“Quando a pessoa chega, já é realizado o acolhimento, seguido pelo direcionamento para o atendimento de profissionais da equipe multidisciplinar”, explica a secretária-executiva. A equipe conta com enfermeiro, assistente social, psicólogo e nutricionista. “São pessoas que já atuam na política sobre drogas há um tempo, que tem uma vivência, experiência, que estudam essa área”, finaliza.
Além do atendimento individualizado, o Espaço dispõe de atendimentos coletivos, com grupos reflexivos voltados ao tabagismo; ansiedade; grupos de egressos do sistema penitenciário; e grupos de pessoas em situação de rua. Quando necessário, acontecem, ainda, a realização de visitas domiciliares; ou aos locais de encaminhamento.
Já as unidades móveis realizam serviços itinerantes de busca ativa e acompanhamento de usuários de álcool e outras drogas em ruas, praças e terminais de ônibus da Capital. O serviço acontece também no interior, através de articulações do Centro com o município. Durante as ações são realizados atendimentos, entrega de insumos e, caso necessário, direcionamentos para serviços.