Após dois anos tentando engravidar sem sucesso, a técnica em enfermagem Aline Dinalli Dutra Lopez, de 33 anos, e o marido passaram a pensar na possibilidade de realizar uma fertilização in vitro. O preço, porém, desanimou o casal. “Nos lugares onde eu procurei inicialmente ficava entre R$ 25 mil e R$ 30 mil. Não tínhamos condições de arcar com esse custo”, relata. Em pesquisas na internet, Aline encontrou uma clínica popular recém-inaugurada na zona oeste da capital paulista que oferecia a técnica pela metade do preço.
Em janeiro deste ano, Aline passou por uma consulta no centro médico. Decidiu contratar o serviço e agora se prepara para iniciar o tratamento.
O coach de produtividade Araken Perez, de 50 anos, também optou por uma rede de clínicas populares para se submeter a uma cirurgia de retirada de vesícula. “Estava sem plano de saúde havia dois anos. Cheguei a procurar três unidades do SUS (Sistema Único de Saúde), mas me avisaram que demoraria meses, e eu não estava aguentando as dores”, conta ele, que pagou R$ 7,5 mil na operação. Em hospitais particulares tradicionais, diz o paciente, o preço chegava a R$ 15 mil.
Especialistas e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ressaltam que as clínicas, embora práticas, não se equiparam a um plano de saúde ou à assistência integral dada por um sistema estruturado em diferentes complexidades, como o SUS
A maioria dessas empresas surgiu ou registrou crescimento significativo nos últimos dois anos, período em que houve uma queda drástica do número de beneficiários de planos de saúde no País. Por causa da crise econômica, 2,4 milhões de brasileiros perderam o convênio entre 2014 e 2016, segundo dados da ANS.
Crescimento. Somente no último ano, o dr.consulta, uma das principais redes do tipo, passou de 10 para 31 unidades e ampliou o número de procedimentos oferecidos. “Temos exames mais complexos, como endoscopia, ressonância magnética e ultrassom 3D, e passamos a fazer convênios com hospitais privados para oferecer cirurgias a preços bem mais baixos”, explica Marcos Fumio, vice-presidente médico do dr.consulta. Hoje, a rede faz cerca de 120 mil atendimentos por mês em 56 especialidades (médicas e não médicas), além de oferecer mais de mil tipos de exames.
A novata Doktor’s surgiu em outubro e já conta com 25 especialidades, centro de ultrassom e parceria com quatro hospitais para procedimentos mais complexos. Como um dos sócios – o médico Luiz Fernando Carvalho – é especializado na área de ginecologia e obstetrícia, a empresa criou o conceito de “fertilização in vitro social”, oferecendo a técnica por um valor mais baixo do que o praticado no mercado. “Negociamos os preços de cada processo com todos os atores envolvidos, como os laboratórios que oferecem a medicação usada, e conseguimos reduzir o preço”, diz Rodrigo da Costa Aguiar, sócio e diretor executivo da Doktor’s.
Inaugurada em 2014 e dona de cinco unidades, a GlobalMed planeja ofertar ainda neste ano tratamento para pacientes com câncer. “A ideia é que no futuro a gente tenha disponível radioterapia a preços mais acessíveis para pacientes que não conseguirem o tratamento pelo SUS, por exemplo”, diz Bruno Carvalho, diretor executivo.
Outra aposta das clínicas populares são pacotes fechados de serviços e consultas. Na Doktor’s, microempreendedores têm a possibilidade de oferecer aos funcionários um cartão que dá direito a seis visitas médicas anuais ao custo de R$ 19,90 por mês por trabalhador. No dr.consulta, são oferecidos pacotes de consultas para pacientes, como gestantes em pré-natal ou doentes crônicos.
Para os pacientes que utilizam as clínicas populares, a maior vantagem é não ter de esperar as longas filas do SUS. “Perdi o emprego e o plano de saúde no ano passado, mas preciso passar por endoscopia de rotina todo ano por já ter feito uma cirurgia bariátrica. Mas o exame demora muito na rede pública”, diz a internacionalista Michele Paula Santos do Nascimento, de 35 anos.
Especialistas e ANS apontam desvantagens
Embora atraiam pacientes pela rapidez do agendamento e pelos preços mais acessíveis, as redes de clínicas populares não garantem, na opinião de especialistas, um atendimento mais amplo, principalmente em casos graves.
“Claro que essas clínicas têm uma velocidade de atendimento inigualável, mas o paciente não pode ter a ilusão de que, por isso, tem cobertura garantida e não vai precisar do SUS (rede pública). Isso é mentira. Essas clínicas não cobrem medicamentos, internação e quimioterapia, por exemplo. É um atendimento fragmentado”, ressalta a sanitarista Lígia Bahia, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A especialista diz ainda que, como não há uma regulação específica para o mercado, esses serviços têm pouco controle de qualidade. “Os pacientes devem ficar atentos à estrutura, às condições dos equipamentos para exames e a eventuais indicações de procedimentos médicos não necessários”, diz.
Cartilha. A Agência Nacional de Saúde Suplementar, que regula o mercado de planos de saúde, se posicionou sobre os pacotes de consultas e serviços oferecidos por essas clínicas. O órgão editou uma cartilha sobre cartões de desconto ou pré-pagos por meio dos quais o paciente têm direito a um número limitado de consultas ou a descontos em outros procedimentos.
Na cartilha, a agência ressalta que essas modalidades de serviço não são planos de saúde e não possuem garantias como o rol mínimo de procedimentos editado pela ANS. A agência salienta ainda que os planos de saúde são proibidos de oferecer esse tipo de cartão.
Com informações O Estado de São Paulo