Num movimento meticulosamente combinado, o PSD surpreendeu ao apresentar na semana passada o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, como o nome do partido para concorrer à presidência da República. Normalmente, as legendas não anunciam com tanta antecedência o indicado, mas o jovem Partido Social Democrático quer surfar na credibilidade do fiador da política econômica do governo Temer. Na esteira da melhora dos indicadores, o PSD abriu espaço no embolado quadro político. Afinal, as duas legendas que disputam há 25 anos o comando do país — PSDB e PT — enfrentam enormes dificuldades internas para definir seus candidatos.

Assim como outros partidos, o PSD percebeu uma oportunidade de ocupar o vácuo político, agravado diariamente pelo envolvimento de grande parte do Congresso Nacional na Operação Lava-Jato. Nesse cenário, a legenda vê em Meirelles uma bandeira com chance de pegar: a da boa gestão econômica aliada ao fato de ele não ter o carimbo de corrupto que tem contaminado potenciais concorrentes.

Experiente, Henrique Meirelles tenta ser discreto. Repete constantemente que seu foco está na condução da política economia e na recuperação da atividade e emprego no país. Interlocutores mais atentos, no entanto, percebem que ele nunca descarta totalmente a ideia de participar das próximas eleições. Ele tem participando de reuniões que ampliem essa expectativa: como a ida a cultos evangélicos e a encontros de parlamentares.

No almoço da última quarta-feira, para “aproximação política” da bancada com o ministro, ele estava simpático. Fez uma explanação da recuperação econômica e arrancou aplausos do colegas de legenda.

A ideia era não apresentar logo o nome de Meirelles para não desgastá-lo. Afinal, falta um ano para as eleições. No entanto, interlocutores do seu partido, o PSD, se anteciparam e confirmaram que ele é o pré-candidato da legenda. Na saída do encontro, o ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, admitiu a escolha aos repórteres que acompanhavam a reunião. Foi nesse mesmo momento que o ministro usou sua conta no Twitter para negar que seja candidato. No entanto, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, o chefe da equipe econômica confidenciou a pessoas próximas a vontade de concorrer. A avaliação de interlocutores é que o momento é ideal.

 Meirelles sabe que terá apoio quase unânime do mercado financeiro. Espera inclusive um efeito de suas pesquisa eleitorais no comportamento do câmbio e da bolsa. E como já passou dos 70 anos, não seria prudente esperar mais quatro anos.

 

DESEJO DE CONCORRER NOS ‘OLHOS E SORRISO’

 De acordo com o líder do PSD na Câmara, deputado Marcos Montes (MG), a bancada do partido na Casa foi até ele para mostrar que, se fizer essa opção, precisará de um “verniz político” com o qual os deputados do partido podem ajudá-lo. Montes conta que o ministro não pode ainda revelar que quer suceder seu chefe Michel Temer no comando do país, mas lembra que o sonho de todos os políticos é alçar o cargo máximo do Executivo. Segundo ele, no encontro, Meirelles teria revelado com os olhos e o sorriso o desejo que ainda não pode confirmar publicamente.

— Ele não pode dizer que quer, claro que não vai dizer. Mas o sorriso dele… Eu falo muito que eu tenho uma coisa que é: eu leio muito nos olhos. Se você ler os olhos dele, não precisa ouvir ele falar com a boca — confidenciou o parlamentar, que concluiu:

— É só olhar no olho e ver o brilhar dos olhos, o sorriso. Então é claro que quer. Quem é que não quer? E é um homem que está preparado para isso.

O líder do PSD classifica Meirelles como o “timoneiro daquilo que está dando certo no país”. Lembrou que ele tomou medidas duras, mas que mostraram resultado.

— Não é um tipo de homem desse que o Brasil está precisando? Gestor, não tem esse carimbo da política que está pegando nós todos, que a sociedade pode aceitar, duro nas coisas. Duro, mas mostra resultado.

Após o almoço da última quarta-feira, a brincadeira entre os presentes era que Meirelles já deveria pensar em sua equipe. Apenas um cargo não será necessário: o de tesoureiro.

– Já que não vai ter dinheiro para a campanha. Então para quê um tesoureiro? — brincou um dos gaiatos que estava presente numa referência à proibição de doação de empresas.

O ministro também age discretamente como candidato em encontros não muito comuns para o comandante da equipe econômica. Nos últimos meses, Meirelles foi cinco encontros com grupos evangélicos. Concedeu uma palestra em Juiz de Fora, Minas Gerais, sobre a agenda econômica na Convenção da Assembleia de Deus, participou da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, do aniversário de 106 anos da Assembleia de Deus no Pará e até do aniversário de 85 anos do bispo primaz mundial das Assembleias de Deus, Manoel Ferreira.

O ministro tem dito a interlocutores que tem conversado com os evangélicos porque esse grupo demonstra simpatia pelas reformas e pelo programa de ajuste fiscal que o governo Michel Temer quer implementar. Ele argumenta que seu trabalho é conversar não apenas com o mercado financeiro, mas também com outros públicos para explicar a necessidade da aprovação de mudanças na Previdência Social, por exemplo.

Com informações Agência O Globo