A crise nos Correios não é de hoje. A falta de estrutura nas agências, que apresentam de goteiras a banheiros quebrados, passando por carros danificados, falta de pessoal, assaltos frequentes e sequestros rotineiros fazem parte do cotidiano de centenas de funcionários da empresa pública federal.
Na última semana, o Jornal Extra ouviu as reclamações de dezenas de servidores que lidam com as correspondências e encomendas, que hoje penam para chegar às casas dos consumidores.
“O principal é dizer que a culpa da crise dos Correios não é do carteiro. Uma rotina de trabalho dura mais de 10 horas durante a semana. Ainda enfrentamos falta de segurança e de condições de trabalho”, disse um carteiro que pediu para ser identificado como W, pelo medo de retaliação por parte da empresa.
Nos Centros de Distribuição em muitos estados brasileiros, o retrato é de abandono. “Queremos condições justas de trabalho. A empresa está com uma política de incentivar a saída de funcionários. Enquanto isso, o acumulo de serviços é grande”, disse Ronaldo Martins, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Rio de Janeiro (Sintect-RJ).
Indenizações disparam
Uma auditoria feita pela Controladoria Geral da União (CGU), no segundo semestre de 2017, mostrou o tamanho do problema logístico vivido pelos Correios. Os técnicos do órgão constataram que em seis anos, o volume de indenizações pagas pela empresa por atrasos, extravios e roubos aumentaram 1.054%. Para se ter uma ideia, o peso financeiro, em 2011, sobre essas indenizações foi de R$ 60 milhões. Já em 2016, o valor disparou a R$ 201,7 milhões. O aumento percentual foi de 236% no período.
É o caso, por exemplo, da designer de joias Luciana Albuquerque, de 29. Ela depende dos Correios para enviar seus produtos. Várias vezes, porém, o serviço se torna uma grande dor de cabeça.
“Fiz uma postagem dia 8 de fevereiro e até agora não chegou. Já foram três reclamações sem resposta. Vou ter que postar outra produto e cobrar o que aconteceu com este”, disse Luciana.
Outro dado encontrado pelo TCU aponta para o congelamento no corpo funcional. De 2011 a 2016, aumento de 0,43%. A empresa, porém, nega acumulo de trabalho, e aponta reestruturação diante da queda no número de postagens.
Assaltos são rotineiros
O acúmulo de serviço só não é pior que a insegurança para rodar com carros, caminhões ou até mesmo a pé. Entre os funcionários dos Correios, a “disputa” é para saber quem foi o mais assaltado nos últimos anos.
“Em quase 15 anos como carteiro no Rio de Janeiro, já fui assaltado mais de 25 vezes. Além das entregas, levam o dinheiro que temos, celular e o que for de valor. Já perdi três alianças. Só não largo o meu emprego por causa da minha família”, lamentou o funcionário D, que preferiu o anonimato.
Procurados, os Correio informaram que analisam situações de entregas com escoltas ou recomenda a retirada do produto nos Centros de Distribuição. A empresa lembrou, porém, que o assunto é uma questão de Estado. A respeito da situação dos Centros de Distribuição, o órgão tem planos de investimentos em infraestrutura: “em função do tamanho da empresa, problemas pontuais podem existir em algumas unidades”.
Com informações do Jornal Extra