Pré-candidata da Rede à Presidência da República, Marina Silva não vê “incoerência nenhuma” se seu partido formar alianças com outros que seguem orientações contraditórias. Em seus discursos, porém, a candidata critica o que chama de “velha política”, mesmo com seu partido estando junto a legendas como DEM e PSC.

“É aquele princípio que estabelecemos na Rede de que os estados têm autonomia”, afirmou. “Eu tenho que ser coerente com aquilo que eu defendo. Um partido que tenha a sua autonomia nos estados, que tenha as suas direções”, disse Marina, nessa terça, 31, ao Central das Eleições, programa da Globonews.

Durante a entrevista, a presidenciável afirmou que está sendo criteriosa com suas alianças, mas que não é a única a tomar as decisões da legenda. “Eu não sou a dona da Rede. Sou a liderança, mas não sou a dona. Dou a minha opinião. Se sou ouvida, ótimo. E muitas vezes eu sou.”

Durante a entrevista, a pré-candidata confirmou que no Rio de Janeiro defendia a candidatura do deputado Miro Teixeira (Rede) a governador, mas ele preferiu fechar uma aliança com a chapa do pré-candidato Romário (Podemos-RJ) e disputar o Senado. “Eu respeito a decisão dele.”

Como revelado pela Folha, o acordo entre a Rede e o Podemos foi feito contrariando o desejo da presidenciável. Ela tem uma aproximação maior com o pré-candidato Rubem César (PPS), fundador da ONG Viva Rio, mas a candidatura do antropólogo perdeu força com as movimentações nacionais.

Eduardo Jorge

Ainda sem vice, Marina afirmou que está dialogando com PV, do médico sanitarista Eduardo Jorge, que em 2014 foi candidato à Presidência pela legenda —quatro anos antes, em 2010, Marina disputou a corrida eleitoral pela sigla. O convite para que o PV indicasse o nome do vice foi feito no último sábado, 28.

Ao Jornal Folha de São Paulo, Eduardo Jorge afirmou que deve aceitar ser vice de Marina, se essa for a decisão do PV. “Mas, por enquanto, eu sou pré-candidato a deputado estadual”, disse.

“Não tem lógica que dois partidos tão semelhantes fiquem separamos numa situação [do país] tão complicada. A minha posição, neste tempo todo, é que nós, do PV, deveríamos dar um apoio incondicional [a Marina]. Incondicional. Nós vamos apoiar a rede a Marina porque ela é a melhor e porque tem o programa mais próximo do nosso.”

A decisão do PV deve ser apresentada ainda nesta semana.

Propostas

Sem citar nomes, a ex-senadora disse que há candidatos fazendo a bravata de que o cidadão deve estar com arma na mão para defender sua propriedade, sua família e seus bens. “Acho que as pessoas [eleitores] vão começar a pensar.”

Jair Bolsonaro, presidenciável do PSL, é um dos principais defensores do porte de armas. Uma de suas marcas é o gesto de uma arma empunhada. Na convenção que oficializou seu nome, na semana passada, Bolsonaro pegou uma criança no colo e a ensinou a simular uma arma com as mãos. A atitude foi criticada por presidenciáveis, entre eles Marina.

“Você vai eleger um presidente da República para você dizer para o cidadão: ‘Agora defenda-se você com a sua família’? Isso não é razoável”, disse Marina durante a entrevista na Globonews.

Sobre temas como reformas da Previdência e trabalhista, nos quais ela diz ser necessário haver revisões, a presidenciável se esquivou de detalhar as posições que defende. Ela repetiu várias vezes que se deve “fazer o debate”, mas evitou externar suas opiniões. “Eu não sou autoritária. Eu quero debater”, justificou.

Marina também defendeu que o funcionário público dê sua cota de contribuição no reequilíbrio das contas do governo. “No contexto de olhar todos os privilégios, eu terei uma posição de olhar o reajuste dos servidores. Vou cortar privilégios, sim”, afirmou.

“Sempre se pega o funcionário público como se ele fosse o bode expiatório, mas eu quero fazer o debate pegando todos os privilégios. Os servidores públicos devem também fazer seu sacrifício, dentro do conjunto da obra, olhando para todos. Agora, isoladamente, aí fica injusto.”

Com informações do Jornal Folha de São Paulo