Candidato do MDB à Presidência da República, o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de 72 anos, em entrevista ao Jornal O Globo disse que a Presidência da República é uma questão de “oportunidade e destino”. Indicado pelo MDB para disputar o Palácio do Planalto, o ex-ministro pretende usar a oportunidade para, se eleito, recolocar o país no rumo do crescimento. Seus aliados, porém, esperam que ele assegure alguma tranquilidade ao destino do grupo político do presidente Michel Temer que ficará sem o foro privilegiado a partir de 31 de dezembro. Sobre o assunto, Meirelles afirma que só analisará contratações depois de eleito.

Ciente do desafio de representar na urna o governo mais impopular da História, Meirelles tenta se descolar de Temer oferecendo aos brasileiros, em troca do voto, as suas realizações na economia. “Eu retirei o Brasil da maior recessão da História”, disse.

Confira a entrevista completa com Henrique Meirelles:

O slogan do senhor é o “Chama o Meirelles”. Se o povo o fizer, o senhor vai chamar ao seu governo Eliseu Padilha, Romero Jucá, Moreira Franco e Temer?

Eu nunca nomeio equipe na véspera. Só depois que eu fui empossado tanto no Banco Central quanto no Ministério da Fazenda é que comecei a montar uma equipe. Vou tomar essa decisão o dia que eu vencer a eleição e começar a compor o Ministério.

O senhor costuma dizer que tem biografia limpa. Não fica constrangido em posar ao lado de Temer e ministros investigados?

Eu não escolho os líderes do país. Agora, a minha biografia é o que reflete a minha história e as minhas atitudes. Fui presidente de uma grande organização internacional no exterior e posava ao lado de líderes do setor empresarial. Voltei ao Brasil, fui a Goiás e posei ao lado de líderes do partido, na época o PSDB. Entrei no Banco Central, posei ao lado do Lula e de ministros dele. Hoje, com toda a satisfação, poso sim ao lado dos líderes do MDB.

Como pretende crescer nas pesquisas sendo candidato do governo Temer?

Eu sou o candidato da geração do emprego e da renda. Qualquer governo que eu participei, isso é muito facilmente entendido pelo eleitor. Quando a campanha na TV começar a levar aos eleitores a informação sobre tudo que eu já fiz pelo país, o eleitor vai reagir favoravelmente.

Vai defender a biografia do presidente?

Eu vou defender a biografia do que nós fizemos, que é positiva e inquestionável.

Pretende receber empresário na calada da noite para conversar?

Não. A minha biografia já diz. Já tem as respostas para tudo isso. Eu não estou dizendo que vou ou não vou receber. Estou dizendo o que eu já fiz e o que eu faço. Não vou ficar especulando. “Você faria aquilo que o Lula fez? Faria aquilo que os líderes do PSDB fizeram?”. Defendo a minha história pessoal, independentemente de qualquer governo para o qual eu trabalhei.

A retomada econômica é lenta, há 13 milhões de desempregados no país. Que resultados o senhor vai apresentar na campanha?

Eu retirei o Brasil da maior recessão da História. O que ocorreu, no entanto, não tem a ver com recuperação econômica que foi feita, tem a ver com a incerteza eleitoral causada por candidatos de extremos. Um que propõe a volta das políticas que levaram à recessão e ao desemprego e o outro que diz que não entende de economia e vai delegar para alguém o trabalho dele.

A negociação da reforma já foi feita e não precisa voltar atrás. Está no Congresso e eu acho que será aprovada. Os demais temas são projetos que levam ao crescimento econômico, ao aumento do emprego e da renda, ao controle da inflação com juro mais baixo, incluindo autonomia do Banco Central.

O que o senhor não abre mão na reforma?

É o que já foi negociado com o Congresso. Hoje, o trabalhador que ganha menos não consegue completar 35 anos com carteira assinada. Aposenta por idade, com 65 anos. Aprovada a reforma, aqueles que se aposentam cedo, com altos salários, vão ter que trabalhar mais tempo para aposentar.

Como seria concorrer com um candidato preso e condenado por corrupção (caso do ex-presidente Lula, que cumpre os requisitos para ser considerado ficha-suja)?

É direito do partido propor o candidato que julgar adequado. Porém, sou favorável ao fortalecimento das instituições e que se respeite as decisões da Justiça. O partido pode pleitear, mas é a Justiça que define.

O ex-presidente Lula se corrompeu?

Estou aguardando a decisão final da Justiça para ter uma conclusão.

É a favor da prisão em segunda instância?

Acho que compete ao Supremo discutir. Não sou advogado e não pretendo tomar o lugar do Tribunal. No meu plano de governo não consta um plano de alteração de regras penais. Respeitarei o que for decidido.

O senhor divulgou um vídeo em que Jair Bolsonaro chama Maria do Rosário de vagabunda. Que mensagem queria passar?

Simplesmente divulgar a verdade. Eu não gosto de calúnia, não gosto de adjetivos para se ficar tentando classificar adversários, falando informações falsas.

Ciro Gomes disse que o senhor não confia no Brasil. Por isso levou seu dinheiro para paraíso fiscal.

Uma coisa falsa e desinformada. Quando eu morava no exterior, abri a Fundação Sabedoria para deixar a ela, quando eu morrer, uma parte da minha herança para investir em educação no Brasil. Foi feita uma pequena doação nominal para constituir a fundação, tudo declarado à Receita Federal em 2002. Se o ex-governador fosse estudar o assunto, saberia que isso foi suficientemente divulgado no caso Panamá Papers e ficou claro que, na realidade, é algo positivo. Quantas pessoas criam uma fundação para financiar educação no Brasil? Quem pode criticar isso?

Prorrogaria a intervenção na segurança do Rio?

A intervenção foi uma necessidade. Não havia alternativa naquele momento. O governador mostrou a impossibilidade de enfrentar o problema ante a crise fiscal. Agora, o trabalho será de recuperar a polícia no país. Tem estado que há mais de dez anos não contrata efetivo e nem compra viatura. Não tem polícia que consiga atuar nessas circunstâncias. Então, temos que equipar as polícias.

Como o senhor vai fazer campanha no Rio tendo dois caciques do seu partido, Sérgio Cabral e Jorge Picciani, na cadeia. Vai ao palanque dos filhos deles?

Aceito apoio de todas as lideranças importantes que queiram me apoiar. Não sou justiceiro e respeito as instituições. Vou aceitar apoio de todos os líderes em condições legais de me apoiar.

Qual a sua posição sobre o aborto?

Eu sou a favor da lei atual que prevê situações onde isso é justificável.

E sobre a descriminalização da maconha?

Eu sou favorável à aplicação da lei atual, uma lei de 2006, que veda a prisão de usuários da maconha. Acho que não deve ser mandar à prisão o usuário, mas tem que se fazer políticas visando desestimular o consumo.

O que pensa da redução da maioridade penal?

É uma ideia, a princípio, boa. No Brasil, temos um amadurecimento cada vez mais cedo, mas tem que colocar alguma diferenciação entre o crime cometido a partir de 16, 18 e 21 anos.

E sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo?

As pessoas têm direito de exercer a sua preferência. Acho que não pode ser nem propagado nem proibido.

Com informações do Jornal O Globo