A batalha contra a obesidade é complexa e cheia de obstáculos. Entre as diversas abordagens disponíveis, a cirurgia bariátrica tem se destacado como uma ferramenta para auxiliar na perda de peso significativa. No entanto, um novo estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) revelou uma realidade intrigante: aproximadamente 92% dos pacientes que passam por essa cirurgia começam a reganhar peso depois de dois anos do procedimento.
Esse achado alarmante destaca a importância de olhar além da cirurgia como uma solução definitiva e de compreender as nuances envolvidas no processo de perda de peso e manutenção a longo prazo. O médico nutrólogo, Ronan Araíjo, explica o quanto é crucial explorar essa questão detalhadamente, fornecendo informações claras e abrangentes para auxiliar na tomada de decisões informadas.
Ciclo do reganho de peso: lua de mel e desafios pós-operatórios
O estudo da USP destacou que o período de até dois anos depois da cirurgia bariátrica é frequentemente chamado de “lua de mel”, quando os pacientes experimentam uma perda de peso notável. No entanto, é nessa fase que muitos começam a enfrentar dificuldades, principalmente quando o acompanhamento psicológico é interrompido. A ausência desse suporte emocional parece contribuir para o reganho de peso.
Essa descoberta nos leva a questionar o papel essencial que a saúde mental desempenha na jornada de perda de peso. Transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade, são comuns em pessoas com obesidade e podem influenciar significativamente os resultados depois da cirurgia bariátrica.
A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) destaca que aproximadamente 60% das pessoas com obesidade enfrentam algum distúrbio psiquiátrico. Isso reforça a necessidade de avaliação psicológica minuciosa antes de decidir pela cirurgia. Detectar transtornos pré-existentes, como compulsão alimentar e depressão, é crucial para garantir uma abordagem holística na perda de peso.
Ronan Araújo destaca que os transtornos alimentares são condições de saúde mental que envolvem padrões disfuncionais e perturbados de comportamento alimentar. Esses padrões podem manifestar-se em uma variedade de formas, como restrição alimentar extrema, episódios de compulsão alimentar, preocupações excessivas com peso e forma corporal, comportamentos compensatórios inadequados, entre outros.
No entanto, enquanto a cirurgia bariátrica pode oferecer resultados iniciais impressionantes, é importante considerar as alternativas disponíveis. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) revelam que, no último ano, quase 75 mil cirurgias bariátricas foram feitas no Brasil. No entanto, com base no estudo da USP, mais de 69 mil pacientes podem enfrentar desafios na manutenção do peso.
Mudança de paradigma: evolução das medicações e abordagem integrada
É alarmante perceber que pacientes submetidos à cirurgia bariátrica apresentam índices de depressão e ansiedade consideravelmente maiores em comparação com a população em geral. Isso levanta questionamentos cruciais sobre a eficácia e os riscos associados a esse procedimento.
“Ao mesmo tempo, é notável que tratamentos medicamentosos vêm demonstrando resultados superiores à cirurgia bariátrica, sem os riscos inerentes a essa abordagem. O fato de que alternativas seguras e eficazes estão disponíveis coloca um foco renovado na necessidade de considerar todas as opções antes de optar pela cirurgia”, observa o nutrólogo.
Como sempre, a decisão de optar por qualquer abordagem deve ser informada e orientada por profissionais de saúde, buscando uma abordagem integrada e individualizada para alcançar e manter a perda de peso saudável e duradoura.
(*)Com informação do Correio Braziliense