A irregularidade no repasse da vacina pentavalente e das doses de reforço, que afeta os estados brasileiros desde agosto de 2019, se estendeu para 2020: cerca de 18 mil bebês estão sem a proteção em Fortaleza, expostas a pelo menos cinco doenças graves, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Segundo a coordenadora de imunizações da SMS, Vanessa Soldatelli, o Ceará chegou a ficar dois meses sem receber nenhum repasse do Ministério da Saúde (MS), o que gerou a demanda reprimida.

“A pentavalente veio mês sim, mês não. Foram dois meses sem a chegada da vacina, e 9 mil bebês deixaram de ser vacinados em cada um. A DTP (reforço) veio até agosto, depois não veio mais. Mas a maior preocupação é com a penta, porque ela é a primeira proteção dos bebês contra as infecções”, alerta.

O Ministério da Saúde informou, em nota, que “a remessa de vacina pentavalente, adquirida por intermédio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), foi reprovada em teste de qualidade feito pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) e análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)” e, por este motivo, “as compras com o antigo fornecedor, a indiana Biologicals E. Limited, foram interrompidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”.

O abastecimento deveria ser normalizado em novembro do ano passado, aponta o MS. A coordenadora de imunizações de Fortaleza, porém, afirma que a gestão municipal “recebeu, em janeiro, apenas a quantidade de rotina normal para um mês”: 9 mil doses de pentavalente e 5 mil da DTP, repasse ainda insuficiente para a demanda retroativa. Para todo o Ceará, conforme a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), foram enviadas 83.500 doses da vacina pentavalente e 60.840 da DTP, de agosto até janeiro de 2020.

A vacina pentavalente é obrigatória no Calendário Nacional de Vacinação, e deve ser aplicada nas crianças aos dois, quatro e seis meses de idade, prevenindo contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e a bactéria Haemophilus influenza tipo b, que pode causar meningite e outros tipos de infecções. Já as doses de reforço ou “complementações” são feitas por meio da vacina adsorvida difteria, tétano e pertussis (DTP), voltada a crianças a partir de 1 ano.

A difteria teve apenas um caso confirmado no Ceará (em 2003), entre 1997 e 2018, de acordo com boletim do Ministério da Saúde. Já o tétano registrou, em 2019, 11 casos, quatro deles na capital cearense. Coqueluche teve 29 confirmações, nove em Fortaleza. Já a hepatite B contabilizou 196 infecções e cinco mortes em todo o estado – 77 dos casos e uma das mortes foram em Fortaleza.

Outra doença grave à qual crianças estão expostas sem a imunização é a meningite causada pela bactéria Haemophilus influenza tipo b. No Ceará, ano passado, foram 423 casos e 29 mortes contabilizadas por “meningites”, não especificado o causador. A capital cearense concentrou 227 dos registros e nove dos óbitos. Os dados são do último boletim epidemiológico de 2019 da Secretaria Estadual da Saúde.