Uma vaga de emprego é o que a maioria dos migrantes venezuelanos procura ao chegar ao Brasil. O grau de qualificação e experiência profissional são variados. Para conseguir um trabalho, os migrantes precisam enfrentar a barreira do idioma e regularizar a situação.
O estado de Roraima é a principal porta de entrada dos venezuelanos. Em 2016, o estado recebeu cerca de 30 mil migrantes. Na capital, Boa Vista, dezenas deles podem ser encontrados às portas da Polícia Federal em busca de documentos que os habilitem a permanecer no país.
Segundo o secretário nacional de Justiça e Cidadania, Gustavo Marrone, ao pedir refúgio no país, o estrangeiro já consegue autorização para trabalhar. Mas se não regularizar a situação em até 90 dias, pode ser deportado.
“O solicitante de refúgio já pode trabalhar, já recebe a carteira de trabalho. Os outros precisam fazer o pedido de uma permanência temporária com autorização para o trabalho, que é concedida pelo Comitê Nacional de Imigração. Esse é o requisito básico para eles. Ou via solicitação de refúgio ou via de permanência provisória com autorização pro trabalho”, disse.
Dados do Sistema Nacional de Empregos (Sine) de Roraima apontam que, no último trimestre do ano passado, 17 candidatos venezuelanos foram para entrevistas de emprego e dois deles foram contratados.
Funcionário da Secretaria de Trabalho e Bem-Estar Social de Roraima, Dênes Viana da Silva, atende diariamente dezenas de venezuelanos em busca de emprego. Muitos, segundo ele, têm curso superior e ocupavam bons cargos no país de origem. “Estamos encontrando muitos deles que têm cargos, são servidores públicos dentro de seu país e que agora estão assim, nessa situação, se encontrando nessa calamidade, mas com a esperança de, no Brasil, no nosso país, encontrar uma oportunidade de poder recomeçar, e quem sabe dentro da sua experiência, da sua área profissional e do seu nível superior, a maioria deles tem condições de conseguir uma oportunidade de começar de novo”, afirmou.
Aqueles com formação superior são indicados para vagas em escritórios de contabilidade e de advocacia. Candidatos com menos anos de escolaridade buscam ocupação no comércio, serviços gerais e na construção civil.
É o caso de Marcos Luis Pacheco, de 30 anos, que deixou o município de Maturín, a 416 quilômetros da capital venezuelana Caracas, para conseguir uma oportunidade de trabalho no Brasil. Ele chegou em Roraima com a ajuda de conterrâneos e, em Boa Vista, disputa uma vaga de serviços gerais. “Não encontrei forma de conseguir a comida e o trabalho para me sustentar, para sustentar meu filho e minha mãe, então consegui uma oportunidade de vir para cá”, contou.
Já a publicitária Jéssica de Souza, há quatro meses no Brasil, precisou passar por várias entrevistas até ser contratada por um jornal de Boa Vista. Filha de mãe brasileira, Jéssica disse que falar e entender o português ajudou para conquistar a vaga. Ela afirmou que o mercado de trabalho no seu país passa “por um momento muito difícil” sem muitas oportunidades. “Já tenho domínio do idioma. Eu falo bastante, para escrever também não tenho problema. Acho que isso ajudou bastante”.
“Pretendo continuar aqui e fazer a minha vida profissional, porque acho que a Venezuela está em um momento muito difícil e não tem oportunidade para os profissionais”, acrescentou a publicitária.
E aqueles que não conseguem uma vaga recorrem à informalidade. Pelas ruas de Boa Vista, muitos fazem malabares, limpam parabrisas de carros nos semáforos ou vendem artigos em bares e restaurantes.
Nova casa
Sem moradia, o Centro de Referência ao Imigrante, um ginásio de esportes na zona oeste da cidade, virou a casa de centenas deles.
A rotina da casa é organizada por voluntários da organização não governamental Fraternidade. As tarefas do dia, como a preparação da comida e a limpeza das dependências, são distribuídas entre os moradores. Nos horários de maior movimento: o café da manhã e o jantar, o centro chega a receber 160 pessoas.
Como a dona de casa Rita Hernandez, de 25 anos, que vive no abrigo com os dois filhos, um de 3 anos e outro de 5 anos. O terceiro filho, mais novo, ela deixou na Venezuela. “Lá não temos nada, não temos comida. A Venezuela está passando fome. Não temos dinheiro para comprar nada”, disse.
A nova moradia da família de Rita é um espaço na arquibancada do ginásio. Ela chegou ao local em dezembro, em busca de comida. O abrigo é mantido pelo governo do estado e entrou em funcionamento em dezembro do ano passado.
O coordenador do centro, tenente Fernando Troster, disse que muitos venezuelanos desejam permanecer no Brasil. “Eles não vieram porque queriam vir, eles vieram porque havia uma necessidade. Ainda que eles tivessem dinheiro, pela crise de abastecimento, eles não tinham condição de adquirir comida. Mas chegando aqui, e vendo que a situação na Venezuela não tem uma perspectiva de curto prazo de melhora eles querem, muitos aqui, dos não indígenas, especialmente, se inserir no mercado de trabalho”.