Fernando Segovia, diretor-geral da Polícia Federal, fez um “mea culpa” em diversas reuniões com associações de servidores da PF nessa quarta-feira, 14. Suas declarações dadas na semana passada, em entrevista à agência de notícias Reuters, não foram bem recebidas dentro da Polícia.
Na última sexta, 9, Segovia disse não haver indícios de crime no inquérito que apura se o presidente da República, Michel Temer (MDB), favoreceu empresas no porto de Santos por meio de um decreto em troca de propinas. Ele também indicou que a investigação pode ser arquivada em pouco tempo.
Ao longo dessa quarta, Segovia se reuniu com a diretoria da PF e representantes de entidades de classes da corporação, como a Fenadepol (Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal) e a Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais). Embora alguns grupos já tivessem audiências marcadas com ele, Segovia chamou as entidades para conversar.
Segundo presentes às reuniões, o objetivo de Segovia foi reafirmar que não houve nem haverá interferência na equipe responsável pela investigação do porto de Santos e admitir que ele se expressou mal na entrevista, mas também foi mal interpretado. O diretor da ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), Edvandir Félix de Paiva, falou que Segovia está “abalado” e “abatido” e quis esclarecer o que aconteceu. No entanto, afirmou Paiva, a crise provocada ainda é muito grande e todos estão preocupados em manter a credibilidade da Polícia Federal.
“A impressão que eu tive é que, falando, ele se arrepende de ter seguido por determinados caminhos, de falar sobre a investigação sobre o presidente [Temer]. Falar em entrevista é sempre muito difícil e ele está abalado, abatido com a repercussão, mas deixa claro que houve certa distorção em relação ao que disse e que não houve nem haverá nenhum tipo de intervenção, interferência nem pressão em cima dos investigadores. Essa palavra de garantir isso para a gente é importante, mas o mal-estar ainda não está superado”, declarou.
Segundo o UOL, nem mesmo Segovia sabe se a crise esfriará e será superada. Por causa das declarações, ele foi intimado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, relator do caso na Corte, a dar explicações. A ida de Segovia ao STF será na segunda, 19.
Para o ministro, a fala do diretor “é manifestamente imprópria e pode, em tese, caracterizar infração administrativa e até mesmo penal”. Barroso afirmou que o delegado Cleyber Lopes, responsável pelo inquérito, deve ter “autonomia para desenvolver o seu trabalho com isenção e livre de pressões” e ressaltou que este ainda não apresentou um relatório final. O ministro ainda pediu que Segovia se abstenha de comentar novamente sobre o inquérito.
As próprias entidades presentes às reuniões nessa quarta pediram que Segovia falasse menos na mídia e cuidasse da imagem. A percepção é que ele vem se expondo a situações desnecessárias. Na entrevista à Reuters, por exemplo, as federações entendem que houve uma série de equívocos na fala do diretor-geral e que, como gestor, ele não poderia adentrar questões relacionadas a investigações.
Por enquanto, as entidades vão esperar o conteúdo da explicação de Segovia a Barroso antes de se manifestarem sobre o caso novamente. Para os grupos foi importante a fala dele de reafirmar que não houve nem haverá quaisquer interferências em investigações.
Com informações do UOL