O presidente Michel Temer (PMDB) disse não estar preocupado com a possibilidade de o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB) fazer um acordo de delação premiada. “Mais uma vez no plano da subjetividade, não estou preocupado com o que ele vai fazer. Espero que ele seja feliz. Foi um deputado atuante, eficiente, mas não sei o que ele vai fazer. Não tenho que me incomodar com isso”, disse Temer em entrevista concedida nesta segunda-feira, 17, ao jornalista Kennedy Alencar, do SBT Brasil.
Temer considerou ainda improvável a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) anular a destituição da ex-presidente Dilma Rousseff em razão da versão, defendida pelos advogados da petista, de que Cunha, então presidente da Câmara, agiu por vingança ao abrir o processo de impeachment na Casa. “Evidentemente, penso que isso não anula o impeachment”, disse o peemedebista.
Ele acrescentou que, mesmo que a abertura do processo tenha sido uma vingança de Cunha, não foi esse o motivo que levou a Câmara e o Senado a destituir Dilma por votação “avassaladora”.
Temer também se defendeu durante a entrevista das acusações sobre arrecadação ilegal para campanhas de seu partido. A respeito de um jantar no Palácio do Jaburu em que teria sido discutida a doação de R$ 10 milhões da Odebrecht a campanhas do PMDB de 2014, lembrou que o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht disse em sua delação premiada não ter tratado de valores com ele.
Sobre Márcio Faria, ex-executivo da Odebrecht que acusou Temer de ter participado de uma reunião em 2010 que sacramentou contribuição de US$ 40 milhões originada de propina, o presidente disse que o delator foi um das “dezenas de empresários” levados à sua presença. “Só soube do nome dele agora”, afirmou o peemedebista.
Temer assinalou que uma porção de candidatos do partido fazia contatos com potenciais colaboradores de campanhas, mas garantiu que, quando era presidente do PMDB, as verbas entravam e saíam oficialmente da sigla.
Na entrevista ao SBT, Temer reiterou também que não tem planos de disputar novo mandato nas eleições do ano que vem. “Minha preocupação é trabalhar pelo Brasil”.
Acordo. Na entrevista, o presidente negou que tenha se reunido com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva para negociar um “acordão” com o objetivo de estancar a Operação Lava Jato.
“Eu encontro com frequência o presidente Fernando Henrique. Encontrei o presidente Lula algumas vezes, uma até num momento pesaroso para a vida dele. E encontrarei quantas vezes forem necessárias. Agora, não vou me encontrar para encerrar a Lava Jato”, afirmou Temer.
“Isso, data vênia, me perdoe a expressão, é ignorar nosso sistema institucional. Como alguém vai montar um esquema para acabar aquilo que está sendo processado no Judiciário? Não existe isso”, acrescentou o presidente.
Temer disse que pode se reunir com os ex-presidentes para trocar ideias sobre reforma política e, eventualmente, pedir o apoio deles à proposta.
O presidente aproveitou a entrevista para ressaltar o que chamou de “salto” na economia, lembrando do crescimento de 1,3% da atividade econômica em fevereiro – divulgado hoje pelo Banco Central -, e da desaceleração da inflação.
“Nós tínhamos inflação de 10%. Agora, temos de 4,55%, a indicar que teremos menos de 4,5% [centro da meta do Banco Central] até o fim do ano”, afirmou. Ao tratar das mudanças na legislação trabalhista, o presidente comentou que o projeto da terceirização vai gerar empregos.
Já sobre a reforma política, disse não se opor à ideia da formação de uma Constituinte para votar o tema. Temer afirmou ainda ser contra a “eliminação traumática” de partidos políticos com cláusula de barreira.
Envelope. Temer afirmou, ainda, que o envelope recebido em 2014 pelo advogado José Yunes a pedido de Eliseu Padilha, hoje ministro-chefe da Casa Civil, era “supostamente um envelope pardo, pequeno”. Yunes, segundo o presidente, “sequer apanhou esse envelope em mãos”. A secretária do advogado foi quem o recebeu, afirmou Temer.
Em depoimento no ano passado, um dos delatores da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, afirmou que R$ 4 milhões destinados a Padilha foram entregues no escritório de Yunes – que é amigo pessoal e foi assessor especial de Temer no governo.
Em fevereiro deste ano, Yunes prestou depoimento espontaneamente aos procuradores da Operação Lava Jato para revelar que serviu de “mula” para Padilha. O então deputado federal pelo PMDB teria pedido que recebesse um “documento” em seu escritório. Yunes revelou ainda que o “documento” foi deixado no escritório por Lúcio Funaro, operador de propinas do PMDB que está preso em Curitiba no âmbito da Lava Jato. Na mesma época, Yunes pediu demissão do cargo de assessor especial da Presidência.
Com informações O Estado de São Paulo