O Brasil vai registrar neste ano o maior volume de falências em uma década, além de um aumento no número de empresas em recuperação judicial, graças a lenta retomada econômica e investimentos represados devido à incerteza no cenário eleitoral. A recuperação concentrada em poucos setores e o fraco consumo das famílias explicam essa piora. A alta do dólar pode fazer com que essa situação persista em 2019, dizem analistas.
“A recuperação da economia se dá em setores isolados. A maior parte ainda está em situação muito crítica. Há mais empresas em recuperação judicial, e elas não conseguem sair dessa situação, indo à falência”, explica Luiz Alberto Paiva, diretor da Corporate Consulting, que projeta para este ano 948 decretações de falência, o maior número registrado desde 2008.
Luis Fernando Guerrero, sócio da área de conflitos do Lobo de Rizzo Advogados, observa que o aumento do dólar é um fator que gera preocupação e pode levar ao avanço desses números. Isso porque a alta da moeda americana pode afetar o custo de insumos e dívidas, dependendo do negócio. “A retomada da economia é desigual, e alguns indicadores pioraram, como o dólar. Isso pode agravar a situação de algumas empresas”.
A lista de companhias que tiveram de procurar amparo na Justiça para tentar aprovar um programa de recuperação — e com isso obter uma trégua dos credores — é grande e eclética. O aeroporto de Viracopos, a empresa de cosméticos Contém 1g e a fabricante de refrigerantes Dolly são alguns exemplos de companhias que não estavam conseguindo arcar com seus compromissos financeiros e tiveram de apelar para a proteção judicial em 2018. Elas seguem em reestruturação.
Outras, como a rede de livrarias Laselva e empresas do Grupo Schahin, da área de engenharia civil, não resistiram. A reestruturação de dívidas feita na fase de recuperação não foi suficiente para manter essas empresas em funcionamento, e elas tiveram a falência decretada.
Um detalhe chama a atenção no universo de empresas falidas. As companhias médias ou grandes são 34% do total, o maior percentual já registrado desde o início da série histórica, que tem segregação por porte desde 2005. “A intensidade da recessão econômica fez com que até as médias e grandes fossem afetadas”, diz Paiva, da Corporate Consulting.
O número de empresas que vão recorrer ao processo de recuperação judicial deve alcançar 1.282 até dezembro, de acordo com a Corporate. O acumulado neste ano será maior que os 1.195 casos do ano passado. Apesar da perspectiva de crescimento de 7,3%, ainda ficará abaixo do recorde de 2016.
Demora para admitir
Uma das empresas que entraram em recuperação judicial este ano foi a fabricante de geradores Stemac. Ela entrou com pedido na Justiça em maio para evitar fechar as portas. A companhia, que já teve 2.500 funcionários e faturou R$ 900 milhões em 2015, encerrou 2017 com mil empregados e receita de R$ 300 milhões.
“A recuperação judicial foi algo que se impôs para nós. Já tínhamos utilizado todos os mecanismos de redução de custo. Trabalhamos com um bem de capital, e, no meio de uma crise de confiança, houve uma redução dos investimentos por parte dos clientes”, conta Valdo Marques, diretor financeiro da empresa.
Na recuperação judicial, a empresa fica com as cobranças suspensas por 180 dias, mas precisa apresentar um plano de reestruturação das dívidas aos credores. No caso da Stemac, esse plano foi apresentado em agosto.
Para especialistas, um dos fatores que dificultam a recuperação das empresas é a demora dos administradores ou sócios em reconhecer as deficiências da companhia para dar início a uma reestruturação.
“A recuperação, para dar certo, depende muito do mercado em que a empresa está posicionada. Se é um segmento em recuperação, isso ajuda. Outra saída é a venda de ativos ou a venda de parte do controle ou o controle total”, avalia Fabiana Solano, sócia e especialista em reestruturações do Felsberg Advogados.
Com informações do Jornal O Globo