Homem, branco, casado, com 48 anos e ensino superior completo. Esse é o perfil médio dos candidatos que disputam as eleições neste ano. E essas características mudam pouco de acordo com o cargo eletivo.
Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estão disponíveis no DivulgaCand e no repositório do órgão. Os números do TSE ainda podem ter alterações, com a atualização dos dados pelo órgão ou até com indeferimento e renúncia de candidatos.
De todas as candidaturas registradas, 69,1% são de homens. As mulheres representam apenas 30,9%. A população brasileira, porém, é formada majoritariamente por mulheres. Segundo o IBGE, 51,8% são mulheres; e 48,2%, homens.
Para o cientista político Humberto Dantas, coordenador da pós-graduação em ciência política na FESPSP, o perfil médio dos candidatos não reflete a população porque os partidos têm uma estrutura pouco democrática e perpetuam famílias e padrões já dominantes na sociedade. Ele afirma ainda que a disputa pelo cargo de vereador – que não ocorrerá este ano –, por exemplo, é a mais democrática das eleições e funciona como uma oportunidade de eleger pessoas que tenham um perfil mais próximo ao da população.
“Os partidos políticos precisam ser mais transparentes. Isso ajudaria muito a ponto de as pessoas voltarem a acreditar, a se aproximarem, a se filiarem [a partidos] etc. O cidadão precisa ser politizado, ter noção de política, aula de política, ideia de política e respeito pela política. A política precisa ser algo em que as pessoas acreditam para, de fato, funcionar”, afirma.
O ensino superior também é o grau de instrução predominante entre os candidatos. Cerca de metade (52,9%) informa ao TSE ter esse grau de instrução. Esse percentual é o maior desde as eleições de 2002. Segundo o IBGE, porém, 15,3% da população brasileira têm ensino superior completo.
Dos candidatos deste ano, 31,3% dizem ainda ter o ensino médio completo. Em seguida, 9,7% informam ter ensino superior incompleto.
O TSE só passou a informar a raça dos candidatos a partir das eleições de 2014. Por isso, só é possível comparar os dados de 2018 com a eleição presidencial anterior. Em 2014, 55% dos candidatos informaram ser de raça branca, seguidos por parda (35%), preta (9,2%), amarela (0,5%) e indígena (0,3%).
De 2014 para 2018, cresceu o percentual de candidatos negros (ou seja, que se declaram de raça preta e parda). Neste ano, percentualmente, menos candidatos se declararam de raça branca (52,6%). Já os percentuais de candidaturas de pessoas com raça parda e preta aumentaram.
A proporção continua, porém, abaixo da encontrada na população – 55,9% dos brasileiros são negros, sendo que 47,1% se identificam como pardos e 8,8%, pretos. Os dados são do segundo trimestre deste ano da Pnad Contínua, do IBGE.
Dantas diz que a representatividade nas candidaturas pode melhorar com a conscientização do eleitorado. Segundo o cientista político, o distanciamento da população em relação aos partidos dá maior liberdade para a máquina partidária ser aproveitada pelas “mesmas figuras de sempre” e evita o surgimento de novas lideranças. Para ele, a reserva de candidaturas para as mulheres ainda não cumpriu a função de melhorar a representação no Legislativo e deve ser discutida.
“As mulheres negras recebem menos ou ganham menos dinheiro, infelizmente. São a parte mais fragilizada no universo da remuneração no Brasil dentro do mercado de trabalho. Quantas mulheres negras são candidatas? Quantas mulheres negras são eleitas? Quantas mulheres negras conseguem efetivamente se dedicar ao universo político partidário a ponto de se darem bem dentro de uma campanha?”, questiona.
O G1 já tinha registrado a queda no percentual de candidatos casados nas últimas eleições. Essa proporção caiu novamente quando considerados os dados deste ano: 54,7% dos candidatos informam ser casados. Já os números de solteiros e divorciados continuam subindo. Nestas eleições, ficaram em 31,3% e 11,1%, respectivamente.
Por cargo
Dos candidatos a presidente, 76,9% declaram ser da raça branca – ou seja, 10 dos 13 postulantes. Os demais informam ser das raças preta (15,4%) e parda (7,7%). A maioria dos presidenciáveis diz ainda que está casada (76,9%). Um candidato está divorciado; um, solteiro; e um viúvo. Onze dos 13 candidatos a presidente têm ensino superior completo. Um candidato informa ter ensino superior incompleto e outro, ensino fundamental completo. Dos 13 candidatos, duas são mulheres.
Nas candidaturas para governador, 129 são de pessoas de raça branca (64,8%). O restante se declara parda (22,1%), preta (11,1%), indígena (1%) e amarela (1%). Quase 3/4 dos candidatos estão casados – ou 145 dos 199 candidatos (72,9%). O ensino superior é predominante no grau de instrução (87,4%). Apenas 29 das 199 candidaturas são de mulheres (14,6%).
Para o Senado, os números também não são muito diferentes. 65,8% dos candidatos titulares na chapa ao Senado informam ser brancos, enquanto 23,4% se declararam pardos e 10%, negros. O percentual de casados é menor: 67,5%. E 80,1% registraram que têm ensino superior completo. No total, 61 das 351 candidaturas são de mulheres (ou 17,4% do total).
Nos cargos de deputados federal, estadual e distrital, o perfil do político médio ainda é bastante semelhante. A análise do G1 identificou que 57,3% dos candidatos à Câmara dos Deputados informam que têm raça branca. Em seguida, 30,7% declararam ser de raça parda; 10,8%, preta; 0,7%, amarela; e 0,5%, indígena. O percentual de casados é de 54,2%, seguido por 30,8% de solteiros. Quanto ao grau de instrução, 54,7% dos candidatos a deputado federal dizem que completaram o ensino superior e 25,5%, o ensino médio. As mulheres representam 31,7% das candidaturas e os homens, 68,3%.
Na disputa para uma vaga nas Assembleias Legislativas e na Câmara Legislativa do Distrito Federal, o número de candidatos brancos tem o menor percentual, quando comparado a outros cargos. Quase a metade dos candidatos a deputado estadual/distrital se declara branca (49,7%), enquanto 38,4% informam ser pardos e 10,9%, pretos. 54,2% são casados, enquanto 32,4% informam ser solteiros e 10,7%, divorciados. Menos da metade tem ensino superior (44,8%), o menor percentual quando comparado também com outros cargos. Na comparação por gênero, 31,1% das candidaturas são de mulheres, e 68,9%, de homens.
Com informação do G1