O pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, viajou na última terça-feira ao Recife para tentar convencer lideranças do PSB a apoiar sua candidatura. O ato estratégico do pedetista de ir pessoalmente a Pernambuco, em buscar de obter aval do governador do Estado, Paulo Câmara, e da viúva do ex-governador Eduardo Campos, Renata Campos, pode fazer com que a simpatia da maioria da cúpula do PSB com Ciro aumente.

Reduto tradicional do PSB, o diretório pernambucano é considerado crucial para sacramentar a aliança. Além da máquina do estado, o PSB conta com a prefeitura do Recife e outros 60 municípios no interior do estado. Se conseguir fechar um acordo com o PSB, Ciro ganha 45 segundos de tempo de TV e amplia sua musculatura Brasil afora. O PSB governa hoje cinco estados e pretende dobrar o número de governadores.

“Atribuo ao movimento que o PSB puder fazer ao seu tempo o peso praticamente de garantir a minha eleição, o que quer dizer a fundação de um campo democrático, popular, nacional, comprometido em encerrar essa agenda antipovo, antipobre e antinacional que o país está amargando”, disse Ciro após encontro com Câmara.

Candidato à reeleição, Câmara rivaliza com a petista Marília Arraes, que também pleiteia o governo do estado e está bem colocada nas pesquisas. Em conversas de bastidores, o PT negocia a retirada da candidatura de Marília em troca do apoio do PSB à candidatura do ex-presidente Lula, preso desde abril e tecnicamente inelegível pela Lei da Ficha Limpa.

“A posição que for tomada pelo governador Paulo Câmara terá influência decisiva no caminho a ser seguido pelo PSB nacional. Se for a de coligar-se ao PDT, colocará Ciro na condição de favorito para a Presidência”, acredita Cid Gomes, irmão de Ciro e seu principal articulador político.

A ida de Ciro a Pernambuco já vinha sendo ensaiada há várias semanas. Além de estratégica, é simbólica. Viúva de Eduardo Campos, Renata sempre foi considerada uma figura importante no partido. Eduardo sempre a consultava, e ela participava de todas as negociações políticas. Com a morte do marido em 2014, continuou sendo uma espécie de oráculo dos integrantes do PSB.

“Renata carrega uma simbologia muito grande no partido. Sem dúvida foi um gesto importante de Ciro ir ao seu encontro. Essa ida dele ajuda Paulo Câmara e Renata a terem mais simpatia a uma adesão à sua candidatura”, avalia Renato Casagrande, um dos membros da cúpula do PSB que defendem um apoio nacional a Ciro.

Neutralidade criticada

Na última segunda-feira, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, reuniu-se com os presidentes dos diretórios regionais do partido. A eles disse que, diante da grave crise política que o Brasil atravessa, seria um “erro grave” o partido ficar neutro nessas eleições.

Ciro, que já foi filiado ao PSB, tem um discurso afinado com o dos políticos do PSB. Quem participou da reunião disse que ficou claro que a maioria quer se unir a Ciro. E quem não defende expressamente esse casamento, não se opõe.

“A maioria do partido quer que o PSB tenha uma posição. Não dá para não termos uma opinião numa hora dessas, seria muito ruim. Eu sou a favor de uma aliança com Ciro”, diz Casagrande.

O tempo corre contra a indefinição do PSB. Os que defendem a aliança nacional querem que a decisão saia logo, para que os estados possam se adequar à nova realidade. Um acordo deve acontecer na próxima semana. Caso se confirme o apoio a Ciro, o PSB nem faria uma convenção para ratificar a escolha. Isso porque no congresso do partido, em março, foram postas duas hipóteses, além da candidatura própria: a neutralidade ou o apoio a alguém do mesmo campo político do partido. Ciro se enquadra nessa segunda hipótese.

“PSB e PDT são partidos afins. É o caminho natural. Acho que até o dia 30 isso está fechado. Pode ser até o começo de uma fusão entre os dois partidos”, pontua Carlos Lupi, presidente nacional do PDT.

Com informações do Jornal O Globo