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Terminada a melhor quadra chuvosa dos últimos nove anos, as águas acumuladas nas 12 bacias hidrográficas do Ceará mudaram o cenário hídrico do Estado. Houve recuperação expressiva dos volumes acumulados em quase todas as regiões, com algumas chegando praticamente à plenitude de seus volumes. É o caso daquelas situadas mais ao Norte, próximas do litoral: Coreaú, Litoral, Metropolitanas e Ibiapaba. Esses volumes possibilitarão, em boa medida, a retomada da atividade econômica suspensa em grande parte durante os sucessivos anos daquela que já é considerada a maior seca da história do Ceará. Contudo, em que pese a recuperação ter acontecido em praticamente todas as bacias, ainda há gargalos a serem considerados.

Perímetros irrigados situados na Bacia do Acaraú – cujo volume após a quadra chuvosa bateu confortáveis 91% – terão condições de retomar suas atividades.

“A Cogerh, numa ação considerada arrojada por muitos, vinha mantendo alguma irrigação viva nos perímetros Araras Norte e Baixo Acaraú”, explica João Lúcio Farias, presidente da Cogerh. Segundo ele, com as boas recargas deste ano, será possível ampliar a área irrigada. “O fato de o Araras (Açude Paulo Sarasate) ter sangrado neste ano, nos dá garantia para atender plenamente ao setor”, garante João Lúcio. O Araras é o maior Açude da Bacia do Acaraú e quarto maior do Estado.

Decisão recente do Conselho de Recursos Hídricos do Ceará (Conerh) estabeleceu que as águas acumuladas no Açude Castanhão serão destinadas exclusivamente ao Vale do Jaguaribe, o que possibilitará, também naquela região, a retomada mais forte da agricultura irrigada. Segundo o secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, vários fatores motivaram essa decisão. Dentre eles a boa reserva acumulada no Sistema Metropolitano, formado pelos açudes Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião. Esses açudes acumulam, atualmente, 349% de suas capacidades somadas, garantindo a Região Metropolitana de Fortaleza por um ano. Com esse volume garantindo a RMF, não será necessária a transferência de águas do Castanhão.

Segundo a decisão do Conerh, o Castanhão deverá operar com vazão média de 12 metros cúbicos por segundo. Essa água é dividida entre a perenização do leito do Rio Jaguaribe e o Eixão das Águas.

“Com essa vazão, garantimos primeiro o abastecimento humano das cidades do Vale, e temos condição de atender bem aos irrigantes”, explica o secretário Teixeira, que também preside o Conselho de Recursos Hídricos.

Pós-pandemia

O presidente da Cogerh também ressalta a importância estratégica da água para a recuperação da economia do Estado quando a pandemia provocada pelo novo coronavírus passar.

“Não podemos perder de vista a relevância da geração de empregos no campo para a volta da economia aos trilhos quando tudo isso passar. Trata-se de um dos setores mais ágeis na contratação de mão-de-obra, e isso dinamiza a economia local, os pequenos negócios locais” destaca João Lúcio. “Nesse sentido, a água do Castanhão terá ainda mais importância no chamado período de pós-pandemia”, conclui.

Sistema que abastece RMF requer atenção permanente

A principal característica das chuvas no Ceará é a irregularidade. Tanto no tempo quanto no espaço físico. Isso significa que o Estado pode passar anos (como visto no passado recente) com chuvas abaixo do desejável e outros anos de abundância. Também que, mesmo nos anos de boas chuvas, as precipitações não acontecem de maneira uniforme no território. Dessa forma, mesmo em anos considerados bons, algumas regiões permanecem em seca ou situação de alerta. Neste ano, mesmo com chuvas mais bem distribuídas, ainda há regiões em dificuldades, ou em alerta.

É o caso do Sistema Integrado Jaguaribe/RMF, e as bacias do Alto Jaguaribe (34,9%) e Salgado (43,2%), Sertões de Crateús (45,7%) e Curu (31,1%). Outras duas Bacias, Babanabuiú (14,7%) e Médio Jaguaribe (15,6%), encontram-se em Situação Crítica (abaixo dos 30%). “Justamente nessas duas bacias estão situados dois dos chamados reservatórios estratégicos*: Banabuiú e Castanhão”, lembra o secretário Francisco Teixeira. “É claro que houve aportes, mas os nossos estoques de água estavam muito acanhados. Por isso estamos lançando essa advertência”, diz. O Sistema Integrado Jaguaribe/RM considera o Castanhão mais os açudes situados no Entorno de Fortaleza: Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião. Trata-se do macrossistema que garante a Região Metropolitana.

Outra região que prende a atenção das autoridades dos recursos hídricos no Estado é a do Baixo Jaguaribe.

“Essa é uma região que tem apenas um açude monitorado, o Santo Antônio de Russas. Esse é um reservatório pequeno e de abrangência muito limitada”, adverte o secretário.

Desde 2015/16 cidades abaixo de Limoeiro do Norte passaram a ser atendidas por água subterrânea. Isso devido ao fato de o Castanhão não ter mais condições de perenizar o Rio Jaguaribe e abastecer aquelas populações.

“Dessa forma, cidades como Fortim, Russas, Palhano, Jaguaruana, Itaiçaba e Aracati tiveram de retomar seus antigos sistemas de abastecimento a partir de água subterrânea”, explica Teixeira. “Ou seja, o ainda baixo estoque de água do Castanhão, reflete no abastecimento dessas cidades e de comunidades rurais dessa região”. O setor produtivo nessa região também teve de se socorrer da água de poços, sobretudo na produção de camarão em cativeiro, atividade intensa naquela região.

Açudes estratégicos

A Cogerh monitora 155 reservatórios nas 12 bacias hidrográficas do Ceará. Todos têm importância seja para o abastecimento humano, seja para os chamados usos múltiplos. Por estratégicos entende-se aqueles reservatórios de abrangência regional, cuja a importância muitas vezes chega a extrapolar a bacia onde está situado. Dentre outros pode-se citar como exemplo: Banabuiú, Orós e Castanhão, ligados à Região Metropolitana de Fortaleza; e Açude Paulo Sarasate (Araras), ligado à Bacia dos Sertões de Crateús.

(*)com informação do Governo do Estado do Ceará