O nervosismo parece ter diminuído no mercado financeiro, mas as turbulências em relação ao diesel ainda devem esquentar as reuniões na Esplanada dos Ministérios. Segundo analistas, há dois riscos iminentes: a greve dos caminhoneiros e a possível alta no preço do petróleo no mercado internacional. Ontem, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), voltou a subir, com alta de 1,39%, aos 95.578 pontos. O dólar, por sua vez, caiu 0,11%, cotado a R$ 3,928.

A calmaria no mercado ocorreu após a Petrobras anunciar a alta de R$ 0,10 no valor do diesel nas refinarias, impedindo que a estatal tivesse prejuízos com a manutenção do preço mais baixo. Tanto é que as ações ordinárias e preferenciais da empresa subiram 1,92% e 3,18%, respectivamente.

Mesmo que seja um movimento positivo para a Petrobras, os analistas ainda não descartam uma possível intervenção do governo federal nos preços. Isso porque há muita volatilidade no barril de petróleo no mercado internacional. Em setembro de 2018, por exemplo, o tipo brent ultrapassou US$ 80. Atualmente, circula próximo de US$ 72. Uma alta do produto obrigaria a estatal a elevar novamente o custo, o que poderia fortalecer o movimento dos caminhoneiros.

Além disso, o dólar também pode sofrer volatilidades fortes, principalmente por conta da reforma da Previdência (leia a matéria abaixo). Uma mudança forte no texto provocaria reações negativas para o real, elevando a moeda norte-americana. Essa possível alta impactaria no preço dos combustíveis. Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), explicou que o reajuste da Petrobras, anunciado na última quarta, ajuda a normalizar os ânimos no curto prazo, mas ainda não há calmaria entre os caminhoneiros.

Estratégia

Para ele, o governo federal não anunciou as medidas corretas para evitar, de vez, uma possível paralisação. “Teremos que torcer, porque esses últimos anúncios foram mais um ‘até a próxima crise’ do que algo para cessar o problema. Se o preço do diesel continuar subindo no mercado internacional, o governo não vai intervir? Acho difícil”, afirmou Pires. “É preciso ter uma solução diferenciada, como um imposto flex, que fica caro quando o petróleo está barato e barato, quando o petróleo está caro. Ou então um fundo que estabiliza o preço. As duas medidas teriam a mesma função. E o governo precisa começar a estudar isso, porque senão fica refém do mercado internacional”, completou o especialista. Guedes convocou a equipe para estudar ações para evitar altas do diesel.

O economista e diretor da Mirae Asset, Pablo Spyer, ressaltou que o mercado ficará em compasso de espera. “Houve um ajuste em relação ao que ocorreu com a Petrobras. O reajuste do diesel foi uma boa decisão estratégica, porque mostra que a empresa é independente”, destacou.

Segundo analistas, separar a estatal do governo federal é essencial para atrair investimentos. Mas tal autonomia não é defendida por parte dos caminhoneiros. A ala radical do grupo se prepara para realizar uma nova paralisação. A última ocorreu em maio e em junho de 2018, provocando um grande impacto na economia. O Produto Interno Bruto (PIB) ficou menor do que o previsto e a inflação acelerou.

Apreensão

O ministro da Economia, Paulo Guedes, insinuou que o presidente Jair Bolsonaro tem se questionado sobre uma possível privatização da Petrobras. “Se o preço do petróleo sobe no mundo inteiro e não tem nenhum caminhoneiro parando no Trump (presidente dos Estados Unidos), não tem nenhum caminhoneiro parando na Merkel (chanceler da Alemanha), não tem nenhum caminhoneiro na porta do Macron (presidente da França), será que tem um problema aqui?”, questionou, em entrevista à Globonews.

Para a próxima semana, os investidores deverão reagir com cautela em relação à reforma da Previdência, diante das negociações para modificar o texto. O economista Pablo Spyer disse que é um momento de apreensão. “Na minha avaliação, o mercado não viu com muito bons olhos o fato de Guedes dizer que aceitará mudanças no texto. O cenário está deixando claro que o atraso é forte diante de uma atividade que segue fraca. No momento, tudo o que interessa é quando será aprovada”, afirmou.

O desaquecimento da economia global também está no radar. Os indicadores divulgados da zona do euro vieram piores do que o estimado.