Casos de câncer devem crescer cerca de 50% em duas décadas, alcançando 22 milhões de pessoas diagnosticadas em 2030 – em comparação com os 14 milhões de 20123. Essa é a previsão da Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer (Iarc), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS) responsável por pesquisas relacionadas ao câncer em todo o mundo. A estimativa reforça que o câncer é uma questão de saúde pública, com impacto social e econômico.
Apesar da previsão se aplicar a todos os cânceres, alguns tipos merecem destaque. O melanoma, câncer decorrente do crescimento anormal dos melanócitos (células responsáveis pela produção de melanina, que dá a cor e pigmentação à epiderme) é o menos comum, porém mais agressivo entre os cânceres de pele – e sua incidência vem crescendo. No mundo, cerca de 200 mil casos de melanoma são diagnosticados por ano e 55 mil pessoas vão a óbito, o equivalente a 6 mortes por hora4, segundo a OMS; no Brasil, são registrados anualmente 5.560 novos casos da doença e 1.547 óbitos, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA)5.
Rodrigo Munhoz, médico oncologista especialista em melanoma do Hospital Sírio Libanês e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), afirma que ainda não é possível atribuir esse aumento de casos a um fator específico. “Na maior parte dos casos – estudos mostram que 65% -, o melanoma está relacionado a exposição solar excessiva. Por isso, a prevalência da doença é maior em pessoas brancas, de peles e olhos claros, com muitas sardas. No entanto, há tipos específicos de melanoma mais comuns em pessoas negras ou em áreas do corpo não expostas ao sol, como couro cabeludo ou solas dos pés. Por isso, todos devem se cuidar”. O médico reforça, também, que nem sempre o melanoma está associado a uma pinta, como se acredita. “As pessoas ainda confundem uma pinta comum, que pode ser retirada no consultório, com câncer. O melanoma é uma doença grave que pode avançar para os nódulos linfáticos e outros órgãos do corpo, como cérebro, pulmões, ossos e fígado – a chamada metástase. Por isso o diagnóstico precoce é tão importante”, completa.
Queimaduras solares graves na adolescência aumentam em 80% riscos de desenvolver melanoma
Um estudo publicado na revista Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention (CEBP) revelou que, em uma população de mais 108 mil mulheres brancas analisadas (nos EUA), aquelas que sofreram pelo menos cinco incidentes de queimaduras solares graves entre 15 e 20 anos apresentaram risco 68% maior de desenvolver carcinoma basocelular ou espinocelular e 80% maior de desenvolver melanoma6. Dentre as participantes do estudo, cerca de 24% tiveram episódios de queimadura solar com bolhas dolorosas no início da vida, sendo que 10% relataram já ter passado por esses episódios mais de cinco vezes. Do total de participantes, foram diagnosticados 6.955 casos de carcinoma basocelular, 880 de carcinoma espinocelular e 779 de melanoma6.
Para Rodrigo Munhoz, esses dados sugerem que o risco de desenvolver melanoma pode estar diretamente relacionado à exposição solar excessiva na juventude, quando a atenção com a saúde da pele costuma ser menor. “É fundamental que a preocupação com a saúde da pele aconteça desde o início da vida. Há estudos que mostram que determinadas alterações genéticas relacionadas ao melanoma são derivadas de exposição solar excessiva e repetitiva, ou seja, significa que a exposição ao sol foi inadequada repetidas vezes”, comenta o médico.
Sobre as alterações genéticas, ele comenta que uma das mais comuns – encontrada em mais de 50% dos casos de melanoma – é a mutação V600, ocorrida no gene BRAF, levando a uma maior proliferação celular. O especialista destaca, também, que saber da existência dessas mutações permite ao médico prescrever o tratamento adequado ao paciente. “Hoje, existem opções terapêuticas voltadas para pacientes com melanoma que apresentam essa mutação V600, incluindo terapia-alvo e imunoterapia. São terapias que atuam em um alvo específico dentro do gene, oferecendo mais chances de sucesso no tratamento. Por isso, é fundamental que o paciente, ao receber o diagnóstico, faça também o teste genético para verificar a existência de alguma mutação. Assim, o tratamento mais efetivo pode ser prescrito”, completa.
Com informação da A.I