O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, ainda não conseguiu convencer o eleitorado sulista. O ex-governador de São Paulo anunciou em pleno São João de Campina Grande, na semana passada, a possibilidade de seu vice na chapa ser um nome do Nordeste – região que tem o segundo maior eleitorado do Brasil e onde, na eleição de 2006, o tucano e então presidenciável viu seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), obter 77% dos votos.

Apesar do flerte com o voto nordestino na atual pré-campanha, o ex-governador de São Paulo ainda não decolou no Sul. A região tem o terceiro maior volume de eleitores do país e, historicamente, tem votado em candidatos do PSDB em oposição ao PT. A exceção foi a primeira eleição de Lula, em 2002, após dois mandatos seguidos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Nos três últimos segundos turnos presidenciais (2006, 2010 e 2014), por sinal, a região foi a única em que todos os estados deram vitória ao adversário do PT. As últimas pesquisas de intenção de voto realizadas pelos institutos Datafolha e Ibope revelaram que, embora não haja um nome definitivo do PT na disputa – Lula, preso após condenação na Operação Lava Jato, é incerto na urna –, Alckmin tem perdido no Sul até mesmo para dois nomes que nunca se lançaram à Presidência, como os de Jair Bolsonaro (PSL) e Álvaro Dias (Podemos).

Na pesquisa CNI/Ibope da semana passada, por exemplo, o ex-governador paulista registrou 4% no Sul – contra 12% de Álvaro e 21% de Bolsonaro. No último levantamento do Datafolha, em maio, o pré-candidato do PSL e o senador paranaense novamente ficaram à frente do tucano, com 22% e 14%, respectivamente. Com 5% no Sul, nessa sondagem, Alckmin ficou atrás também de Marina Silva (Rede), com 9%, e Ciro Gomes (PDT), com 8%.

“Primeira dificuldade de Alckmin é ele voltar a ser conhecido”, diz analista da UFPR

Para o cientista político Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), as pesquisas feitas nessa etapa da disputa não refletem o real sentimento do eleitorado: dizem “mais sobre o conhecimento do nome que sobre intenção de voto”, uma vez que, defende, a escolha tende a ser feita mais próxima da votação, já com debates e horário eleitoral em andamento.

“As pessoas efetivamente decidem sobre o voto para presidente uma semana antes da eleição; para deputado, não raro, definem o voto praticamente na véspera. Isso está relacionado à dificuldade em obter informação – trabalha-se o dia todo, e o custo informação é muito alto”, destacou o analista. “E outra: se a pessoa se informa por suas redes de preferência, como o Facebook, o Twitter e o WhatsApp, tudo que ela receber vai apenas consolidar a opinião dela sobre um favorito”, completou.

Sobre o fato de Alckmin aparecer no Sul em desvantagem a Álvaro, Codato afirma ver naturalidade na situação, uma vez que a eleição de 2006, na mente do eleitorado, figura como algo distante no tempo. “A primeira dificuldade de Alckmin é ele voltar a ser conhecido – mas também ter apoio de seu próprio partido, o qual, a impressão que fica, é que ainda não se decidiu pelo ex-governador de São Paulo. O PSDB é uma máquina de eleger deputados estaduais e federais, mas não está fazendo campanha para Alckmin da mesma maneira – o próprio [ex-governador e candidato ao Senado] Beto Richa [PSDB] está fazendo campanha para si próprio”, definiu.

Cabos eleitorais no RS não têm apelo, avalia professora da UFRS

Professora do programa de pós-graduação de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Silvana Krause destacou que, embora o PSDB tenha obtido uma série de êxitos no Sul para a disputa nacional, no Rio Grande do Sul o cenário de sucessão presidencial não é tão linear. “No RS, o PSDB sempre teve dificuldades de ter um eleitorado ativo na campanha presidencial, já que, tradicionalmente, o gaúcho tende a não aprovar partidos que vêm de algum racha, de alguma fusão, como o PSDB [cuja origem remonta a uma divisão do MDB]. Somada a essa dificuldade de penetrar no estado, o PP também tem crescido no interior”, apontou.

Na avaliação da analista, tucanos como o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchesan Júnior, ou a ex-governadora e atual deputada federal Yeda Crusius não são nomes que agregariam para Alckmin a ponto de fazerem diferença substancial a ele entre os gaúchos. Yeda governou entre 2006 e 2010 e não foi reeleita. Em 2014, passou como primeira suplente de Marchezan Junior – que renunciou para assumir a prefeitura da capital. “Marchezan Júnior tem muita dificuldade de ter uma administração bem avaliada com a lógica de business, privada, no setor público – e em uma capital com tradição histórica de trabalhismo, com o PDT, e de petismo. Yeda também passou por inúmeras desaprovações e saiu mal avaliada do governo. Pela centro-direita, especialmente no interior, o espaço da direita tem sido ocupado pelo PP”, disse.

“É uma grande dificuldade para Alckmin deslanchar nesse cenário”, constatou. A reportagem do Uol Notícias tentou em mais de uma ocasião ouvir o prefeito de Porto Alegre e o ex-governador Beto Richa. Marchezan Filho, por meio da assessoria, alegou que só teria tempo para falar sobre Alckmin após 11 de julho. Richa não respondeu aos pedidos de entrevista feitos a um auxiliar e ao PSDB paranaense desde 19 de junho.

Vice-presidente do partido no Paraná, o presidente da Assembleia Legislativa, Ademar, Traiano, atribuiu ao “recall muito grande” de Álvaro o melhor desempenho no Sul em relação a Alckmin. Além de senador, o nome do Podemos também já governou o estado. “Uma candidatura local tem reflexos inquestionáveis, é natural, e por isso o recall político do Álvaro no Sul é muito forte”, avaliou.

“Mas o Paraná tem uma atração histórica com candidaturas do PSDB; Alckmin tem uma identidade forte com o Sul, mas o trabalho dele está se iniciando agora.” Se daria algum conselho ao presidenciável de seu partido, sobre o eleitor sulista? “Não sirvo para dar conselho, e Alckmin é um homem respeitadíssimo e com uma trajetória política invejável. Tudo isso tem um peso. Nosso grande líder é Beto Richa, e, embora haja acusações infundadas contra ele, os municípios têm uma grande paixão por ele –e isso pesa muito para Alckmin, acredito.”

Líder no Senado alega ser “natural” desempenho de Álvaro no Sul

Líder do PSDB no Senado e pré-candidato ao governo de Santa Catarina, Paulo Bauer creditou à atividade parlamentar de Álvaro a vantagem dele sobre Alckmin no Sul. “Ele foi governador, senador, e como as pesquisas agora revelam o grau de conhecimento e de credibilidade que a população tem em um candidato, é absolutamente natural que ele desponte com os números que apresentou. Seria assustador o contrário”, classificou.

Para o senador, os índices do ex-governador paulista crescerão “à medida em que a campanha evolua e que a militância e as lideranças do PSDB saiam às ruas e informem detalhes dos projetos de Alckmin”. “Em SC, ele esteve apenas um dia e meio desde que começou a pré-campanha. Não há milagre, há trabalho a ser feito.” Questionado sobre o fato de Alckmin, ao contrário de Álvaro, já ter disputado uma eleição presidencial, Bauer alegou que “isso foi há mais de dez anos”. “Isso foi quando: em 2002? Ou 2006? Agora Álvaro está todos os dias na TV Senado. Esteve 20 vezes em SC no ano passado, ele tem casa lá. É uma figura política que esteve presente no cenário da política nacional, enquanto Alckmin estava cuidando dos interesses de São Paulo”, minimizou.

“Muita gente ainda nem sabe que ele é candidato a presidente. Sei lá, vamos chamar Nossa Senhora de Aparecida para Santa Catarina e pedir para ela falar [sobre Alckmin]? Dá para fazer assim? Não dá.” Sobre Bolsonaro, Bauer alegou que a vantagem do pré-candidato do PSL em relação ao pré-candidato tucano – e aí, não apenas no Sul – se deve ao fato de ele “estar em campanha há dois anos e meio”. “E sem que a gente tivesse pedido qualquer providências de ordem legal para impedir, perante a Justiça Eleitoral – é outdoor, camiseta, tudo feito de forma subliminar. Não podemos nos envolver, nem vamos nos envolver, ou dirão que somos anti-democráticos, que estamos apelando ou tendo medo do adversário.”

O senador destacou que Alckmin terá pelo menos 13 palanques regionais só pelo partido, com candidaturas ao governo, e jura que o anúncio de que o vice pode vir do Nordeste não causou ciúmes entre os aliados do Sul. “Nós, do Sul consideramos São Paulo algo muito próximo de nós – então, nos consideramos muito bem representados quando alguém de lá é candidato”, concluiu.

Números do eleitorado

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a maior parte do eleitorado brasileiro está na região Sudeste (quase 64 milhões, ou 43% do total). O Nordeste responde pelo segundo lugar (39 milhões, quase 27%), o Sul, pelo terceiro (21,5 milhões, 15%), o Norte, em quarto (11,5 milhões, 8%), e o Centro-Oeste, em quinto (10,7 milhões, 7%). O restante, menos de 1%, ou menos de meio milhão de votantes, está no exterior.

Com informações do Uol Notícias