A Comunidade Indígena Tremembé na localidade da Barra do Mundaú, em Itapipoca, a 136 quilômetros de Fortaleza, é uma das dezenas em território cearense à espera da demarcação e consequente homologação de suas terras como propriedade de preservação indígena. São 3.580 hectares de área em constante disputa com o interesse privado há 30 anos. Em 2016, as terras onde vivem 130 famílias quase se transformaram num gigantesco complexo turístico: a “Nova Atlântica”.

A esperança é que o processo de demarcação seja concluído o mais breve possível e que as novas gerações estejam inclusas no mercado de trabalho a partir dos próprios saberes. “Já conseguimos com o Governo do Estado do Ceará a escola, temos posto de saúde, creche e boa parte da infraestrutura que precisamos. O trabalho agora é conquistarmos aquilo que é nosso por direito”, pontua Adriana Carneiro de Castro, que herdou dos pais e avós a luta pela terra.

Pensando no público jovem, técnicos do Projeto São José III elaboram uma proposta na área de turismo ambiental. A ideia nasceu a partir do diálogo com a comunidade tremembé e teve como base uma iniciativa da Funai, onde os jovens são responsáveis pelo mapeamento da área para atuação como agente ambiental.

“Temos todo o potencial para trabalharmos com o turismo sustentável e artesanato. O que é vendido ainda é feito muito precariamente. Com o apoio do São José podemos avançar”, salienta Cleidiane , que coordena a Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio de Buriti.

Resort espanhol

Em julho de 2016, o sonho da demarcação da terra quase foi interrompido. Em resposta à Ação Civil Pública promovida pelo Ministério Público Federal do Ceará, a 27ª Vara da Justiça Federal, em Itapipoca, proibiu a construção do “Projeto Turístico Nova Atlântica Cidade Turística e Residencial e de Serviços”. O complexo de luxo previa ocupar uma área de 3,1 mil hectares e seria composto por 27 complexos hoteleiros com quase 100 mil leitos, residenciais de luxo, sete campos de golfe e uma marina.

Na decisão, o juiz federal Marcelo Sampaio Pimentel Rocha determinou que a empresa espanhola responsável pelo resort não realize intervenções no terreno e declarou nula a licença ambiental expedida pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) para a instalação do projeto.

Para as lideranças da comunidade indígena, no entanto, qualquer conquista só poderá ser celebrada quando houver a demarcação física das terras, a definição dos marcos, o processo de desinclusão e a indenização das famílias não-consideradas indígenas.

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento Agrário