No início do ano que vem, o Banco Central pode ser obrigado a fazer um esclarecimento que seria improvável há alguns meses: explicar ao Ministério da Fazenda por que a inflação ficou tão baixa. Após o IBGE divulgar na quarta-feira que os preços subiram 0,19%, menos que o esperado para agosto, aumentaram as apostas de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine 2017 abaixo de 3%, o piso da meta para este ano, que é de 4,5%, com variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Esse tipo de prestação de contas seria inédito. A legislação que criou o regime de metas, de 1999, prevê que o presidente do BC envie uma carta aberta ao ministro da Fazenda quando não consegue cumprir o objetivo para o ano. Desde então, a mensagem foi necessária em três ocasiões, sempre porque a inflação ficou acima do tolerado — nunca abaixo.

As projeções de que o IPCA fure o piso ganharam força porque o indicador voltou a surpreender analistas. Em agosto, o índice de preços desacelerou para 0,19%, ante 0,24% em julho. A taxa é bem inferior à mediana das expectativas, de alta de 0,3%, e a menor para meses de agosto desde 2010. Pesou sobre o resultado, principalmente, a deflação de 1,07% dos alimentos, que foi suficiente para anular a alta de 6,67% dos combustíveis no mês passado.