A má qualidade do ar tanto na rua quanto dentro de casa provocou quase 600 mil mortes de crianças e jovens com até 15 anos em todo mundo, em 2016. O cálculo é de relatório divulgado ontem pela Organização Mundial de Saúde (OMS) às vésperas do início da primeira Conferência Global sobre Poluição do Ar e Saúde da instituição, que acontece de hoje a quinta-feira em Genebra, Suíça.

Segundo o levantamento da OMS, intitulado “Poluição atmosférica e saúde infantil: Prescrevendo ar limpo”, 93% da população jovem do planeta, o que inclui 630 milhões de crianças com menos de 5 anos e 1,8 bilhão com até 15 anos, estão expostos a níveis de poluição por material particulado “fino”, isto é, com até 2,5 micrômetros (milésimos de milímetro) de diâmetro, acima dos recomendados. Conhecido pela sigla MP 2,5, este tipo de sujeira no ar é um dos mais nocivos à saúde, atingindo as regiões mais profundas dos pulmões e podendo chegar até a corrente sanguínea.

Relacionada a males que vão desde maior risco de parto prematuro e baixo peso ao nascimento a infecções respiratórias agudas, inclusive pneumonia, asma e câncer, segundo a OMS esta exposição excessiva ao MP 2,5 dentro e fora de casa está por trás da morte de cerca de 7 milhões de pessoas em todo mundo em 2016, das quais 543 mil de crianças com até 5 anos e 52 mil com entre 5 e 15 anos.

— O ar poluído está envenenando milhões de crianças e arruinando suas vidas. Isso é indesculpável. Toda criança deveria poder respirar ar limpo de forma crescer e atingir todo seu potencial — alertou Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Brasil não tem parâmetro de qualidade do ar

Ainda de acordo com o relatório da OMS, no Brasil a exposição excessiva ao MP 2,5 nos ambientes externo e doméstico teria provocado a morte de 633 crianças com menos de cinco anos em 2016, com mais 60 vítimas com entre cinco e 15 anos no mesmo ano. Apesar disso, o país até agora não tem parâmetros federais de qualidade do ar específicos para este tipo de poluição. Estabelecidos em 1990 pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente, os padrões atuais contemplam apenas as chamadas “partículas inaláveis”, com até 10 micrômetros de diâmetro, conhecido pela sigla MP 10.

— Quando se adotam níveis elevados como padrões para a qualidade do ar, considera-se um estado de poluição como normal, quando na verdade os valores são mais de duas vezes superiores aos seguros para a saúde pública — diz Carlos Bacuhy, Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental.

Os efeitos

Desenvolvimento fetal: há maior risco de natimortalidade; de parto prematuro; de baixo peso ao nascer.

Após o nascimento: existe maior risco de morte no primeiro ano de vida; pior desenvolvimento psicomotor; risco aumentado de transtornos de espectro autista; maior chance de ter sobrepeso e obesidade; grande risco de desenvolver infecções respiratórias agudas.

Outras doenças: pneumonia e asma; grande probabilidade de ter otite média (inflamação no ouvido); maior chance de ter câncer e futuras doenças respiratórias e cardiovasculares.

 

 

 

Com informação do Jornal Extra