O senador Tasso Jereissati (PSDB) lamentou, em entrevista veiculada, nesta quinta-feira (30), pelo UOL, a falta de coordenação nas ações de combate à pandemia, condenou o despreparo do Governo Federal para dar estabilidade ao País e defendeu a prudência adotada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), para evitar o acirramento da crise política.
Tasso dá um diagnóstico para retratar a triste realidade política e administrativa do País: “Não me lembro de enfrentar um governo tão despreparado. Em vez de estar liderando o combate à pandemia, o presidente está criando problemas e esquecendo completamente dessa crise [da pandemia] que estamos vivendo”, observou o senador cearense.
Esse despreparo, pelas palavras do tucano, está presente no enfrentamento do coronavírus. ‘’Temos relatos de secretários de saúde estaduais dizendo que o Ministério da Saúde está praticamente parado desde que o novo ministro assumiu o cargo. Dá para entender determinadas circunstâncias, ele tem que tomar pé. Mas não é hora de tomar pé. É hora de agir’’, disse Tasso, que criticou, também, o desfecho da saída do ex-juiz Sérgio Moro do Ministério da Justiça.
Segundo o senador do PSDB, foi péssimo o desligamento de Moro do Governo Federal. ‘’Foi péssimo para o país. Não é momento para nenhum tipo de crise extra, desnecessária. Já tivemos na semana anterior uma crise criada pela demissão do ministro Mandetta, que hoje tem consequências’’, expôs.
Tasso disse, ainda, que a “[A saída] do ministro Moro cria uma instabilidade política muito grande em razão de toda a bandeira do presidente Bolsonaro, durante sua campanha, de combate à corrupção. E Moro é o símbolo deste combate à corrupção. Um homem que finalmente prendeu os ricos, poderosos e políticos. Essa bandeira vai por água abaixo e cria crise de confiança no país’’.
Ao ser questionado sobre a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as acusações do ex-juiz Sérgio Moro, Tasso manifestou prudência. ‘’É cedo, porque não podemos desviar o foco da nossa atuação que ainda é, e vai ser por, no mínimo, um mês, o combate ao coronavírus. Desviarmos nossa atenção com a CPMI ou CPI. Sabemos o que é isso. Outras experiências indicam que o país para. Desviar o foco do combate à pandemia hoje seria um crime para o país, apesar de o presidente Bolsonaro estar fazendo força para isso’’.
Tasso considera que a saída de Moro deixou uma mancha que empurra o Governo para negociações que depõem contra a bandeira que conduziu Jair Bolsonaro à Presidência da República. ‘’Há uma mudança na postura política do presidente Bolsonaro com o Congresso e em relação à sua administração. A bandeira da sua campanha foram duas. Primeiro, combate à corrupção. Ele colocou uma mancha. Pelo menos no momento em que demite ou faz com que o ministro se demita. Gostando ou não, mas [Moro] é um símbolo do combate à corrupção no Brasil. No momento que o ministro sai, e ainda sai atirando, já significa que isso não é tão prioritário’’, disse o senador cearense.
Em outro ponto da entrevista, o senador Tasso Jereissati afirma que ‘’ao mesmo tempo, [Bolsonaro] percebe que não tem uma base política. Outra bandeira dele, que era mudar o relacionamento com os políticos, principalmente com congressistas, que ele chamava de relacionamento promíscuo, resolve mudar inteiramente essa postura e buscar o apoio do centrão. Ou seja, ao invés de repudiar os políticos que ele chamava de fisiológicos, se alia a esses políticos. Tem uma guinada radical no caminho’’.
Quanto à relação entre Executivo e Legislativo, Tasso destacou a prudência adotada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, ao evitar o acirramento da crise política. Tasso considera que Bolsonaro tenta encontrar motivos para fantasiar uma suposta conspiração do Congresso Nacional e do Judiciário contra o Governo e disse que, por parte do Legislativo, a hora é de serenidade.
‘’Acho que já tentou fazer isso criando uma narrativa de que havia uma conspiração contra ele entre Congresso e Judiciário’’, disse Tasso, referindo-se a Bolsonaro que, ainda, destacou. ‘’Uma coisa completamente fantasiosa. Não sei se ele acredita nisso mesmo. Dizem que é da sua personalidade, não o conheço bem, ou se estava criando um ambiente para radicalizar os movimentos políticos. Em qualquer das duas alternativas, é uma irresponsabilidade com o país’’.
A postura, nesse caso, de Alcolumbre, segundo Tasso, foi correta: ‘’Acredito que fez bem. É hora de ter serenidade. Não é hora de esquentar o ambiente político. É de jogar água fria, sem deixar de apontar os graves desmandos que podem acontecer’’. Quanto a possíveis investigações, nesse ambiente político tumultuado, Tasso acrescentou: ‘’E melhor ainda essa espera, porque se aguardou a decisão do ministro Celso de Mello, que autorizou abrir investigação. Então vamos deixar essa investigação seguir para mais na frente’’